Humanos treinam máquinas que as substituem: o paradoxo da nova corrida por IA

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Trabalhadores treinando IA
Empresas usam humanos para alimentar sistemas que futuramente poderão substituí-los.

Notícia publicada em 09/11/2025 por Adolfo A. Coradini

Uber, OpenAI e Amazon estão no centro de uma nova contradição tecnológica: empresas que pagam pessoas para treinar os mesmos sistemas de inteligência artificial que podem torná-las obsoletas. O fenômeno já é visto como o início de uma nova corrida global por dados e automação.

O trabalho de treinar seus próprios substitutos

A Uber lançou recentemente o programa Digital Tasks, em que motoristas podem registrar sons, imagens e dados de ruas durante o tempo livre. Essas informações ajudam a melhorar os algoritmos de direção autônoma — os mesmos que, em breve, poderão eliminar a necessidade de motoristas humanos.

Enquanto isso, a OpenAI vem recrutando profissionais de alto nível, como ex-banqueiros e analistas financeiros, para treinar modelos especializados, como o projeto “Mercury”. O objetivo é ensinar à IA tarefas hoje realizadas por iniciantes no setor financeiro.

O mercado bilionário do trabalho invisível

O mercado global de anotação e curadoria de dados cresce de forma acelerada. Em 2025, movimenta quase US$ 5 bilhões, e deve ultrapassar os US$ 13 bilhões até 2030. São tarefas simples — rotular imagens, revisar textos, classificar sons —, mas essenciais para que os sistemas de IA aprendam a funcionar sozinhos.

Amazon e a coleta silenciosa

A Amazon segue uma estratégia semelhante. Além de oferecer treinamentos em computação e IA para milhões de trabalhadores, a empresa coleta dados de campo por meio de óculos inteligentes usados por entregadores, capturando imagens e padrões de movimento que alimentam suas plataformas de automação logística.

A bifurcação inevitável

Segundo o pesquisador Vasant Dhar, da NYU Stern, a tecnologia não elimina o trabalho humano imediatamente, mas cria uma divisão entre quem aprende a usar a IA e quem é substituído por ela. “A inteligência artificial continua melhorando. Alguns evoluem com ela, outros ficam para trás”, afirma.

Um ponto de inflexão próximo

Analistas preveem que o estágio em que sistemas de IA poderão se autotreinar — sem supervisão humana — está cada vez mais próximo. Estimativas variam de três a cinco anos para que a necessidade de trabalhadores humanos em tarefas de treinamento caia drasticamente.

Até lá, o paradoxo persiste: humanos são pagos para construir as máquinas que podem tirar seus empregos, em uma das transformações mais rápidas e profundas do mercado de trabalho moderno.


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